Frequentemente, identificamos pessoas em relacionamentos
extremamente abusivos, o que pode nos gerar revolta e indignação.
Aquela pessoa amiga, inteligente, independente, de repente está presa
num papel de submissão e violência psicológica que não desejamos
para nenhuma pessoa querida. É o tipo de situação que juramos que
nunca aceitaríamos até que… um dia nos vemos nela! Mas, por que
isso acontece?
Características do relacionamento
Um relacionamento abusivo é aquele no qual um dos envolvidos
assume a posição de objeto, se colocando na função de satisfação do
outro. Consequentemente, este se subjuga de forma que os desejos e
vontades do parceiro sejam a prioridade na relação, enquanto os seus
são anulados ou colocados em segundo plano.
A dificuldade em dizer não do indivíduo subjugado é uma das principais
características desse tipo de relacionamento, sendo percebida pelo
outro, que se aproveita dessa limitação. Assim acontecem os abusos
emocionais e até mesmo físicos. O indivíduo que assume a posição de
“dominador” usa conceitos, regras e convenções sociais sempre a seu
favor e, com argumentos, manipula situações para que o outro lhe
atribua a razão. Apesar de mais comumente percebidas no âmbito
amoroso, esse tipo de relação também pode aparecer no ambiente de
trabalho, dentro do seio familiar ou no círculo de amizades.
Fatores Psicológicos
Um dos principais motivos da propensão a um relacionamento abusivo é
a existência de fatores psicológicos. Isso ocorre tanto da parte da parte
subjugada quanto da parte dominadora. No primeiro caso, geralmente
são pessoas com baixa autoestima, medo de reprovação social, falta de
confiança em si mesmo e de reconhecimento do seu potencial que
acabam se tornando mais sugestionáveis. Já o indivíduo manipulador,
em geral, atribui à dominação condição de poder e bem-estar social.
A verdade é que, em relacionamentos abusivos, ocorre um tipo de cumplicidade sintomática entre os envolvidos, além da existência de um adoecer psíquico em ambos os lados.
Teoria do sapo na água quente
Outro fator que leva a situações abusivas é a forma de manipulação
exercida. Geralmente, os abusos começam de forma sutil. Por exemplo,
um namorado que no começo do relacionamento “proíbe” sua parceira
de usar um vestido decotado em tom de brincadeira. Depois se chateia
com uma saída sem sua companhia, justificando que é por amor, até o
ponto de lhe impedir de sair de casa e monitorar suas conversas
particulares com amigos. As formas de abuso se estendem aos poucos,
até o casal se perder nos limites do que seria saudável dentro de uma
relação.
É como a teoria do sapo na água quente. Se colocarmos o sapo direto
na água fervente, ele irá pular. Porém, se deixarmos o sapo na panela
cheia de água e depois acendermos o fogo, à medida que a
temperatura da água vai subindo, o sapo vai se ajustando. E quando a
água finalmente começa a ferver, ele não possui mais forças para pular,
pois está muito cansado, devido a tantos ajustes para continuar ali.
Compensações
Também é comum que o parceiro subjugado tenha dificuldade em
identificar que está em um relacionamento abusivo, uma vez que não
vive só de caos e conflitos: existem também as compensações. Em
alguns momentos, o dominador fornece amor, atenção e carinho,
causando confusão mental e de sentimentos, o que dificulta ainda mais
o reconhecimento da real situação. Assim, o sujeito dominado acaba por
negar a existência de abusos, defende o parceiro e tenta justificar seu
comportamento, inventando desculpas a respeito das “motivações” para
tais atitudes.
Como se prevenir e ajudar alguém em um relacionamento
abusivo
Para evitar entrar nesse tipo de relação o autoconhecimento é
fundamental, uma vez que ele nos possibilita reconhecer nossas
potencialidades e limitações. A partir do momento que conhecemos
nossas falhas, podemos trabalhar para melhorá-las. Além de nos
auxiliar a perceber situações que estamos vivendo de forma mais clara
e funcional. O acompanhamento psicológico também pode ter caráter
preventivo, sendo uma boa estratégia para a manutenção da saúde
mental e precaução do envolvimento em relacionamentos desse tipo,
que possuem aspectos de fundo emocional e psicológico.
Já quando percebemos que uma pessoa está em uma situação
parecida, o que se podemos fazer é tentar sensibilizá-la através de uma
linguagem próxima, sem tom de crítica ou julgamento, e sensibilizá-la
para que procure ajuda. É importante demonstrar a ela, com exemplos
práticos, que aquilo não está saudável e nem aceitável. Depois disso,
incentivar a busca por ajuda especializada para que ela entenda a
situação e, por conta própria, decida como deve proceder. Devemos
ressaltar que, assim como a parte subjugada, o indivíduo abusador
também pode reconhecer a necessidade de ajuda e procurar auxílio.
O processo psicoterápico auxilia a identificar falhas, reconhecer
potencialidades, assim como construir ferramentas para evitar e driblar
esse tipo de situação, que pode acontecer com qualquer pessoa em
algum momento da vida.
Psicologia Popular | Viva Bem, Viva Zen!
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